“Artigo publicado na véspera da Páscoa gerou polêmica ao questionar interpretações tradicionais sobre Judas e resultou na demissão do teólogo da Fatipi.”
O teólogo e sociólogo Valdinei Ferreira, colunista da Folha de S. Paulo em temas relacionados à fé, foi desligado do cargo de professor na Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente (Fatipi). A demissão ocorreu após a repercussão negativa de um artigo publicado no dia 17 de abril, no qual Ferreira sugeriu que Jesus teria enganado Judas, além de defender que os cristãos deveriam reconhecer a possibilidade de cometer equívocos em suas interpretações sobre Jesus.
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O texto foi divulgado na Quinta-feira Santa, poucos dias antes da Páscoa, principal data do calendário cristão. Segundo o relato bíblico, Judas Iscariotes foi o apóstolo que traiu Jesus em troca de trinta moedas de prata, o que resultou em sua prisão e posterior crucificação.
No artigo, Valdinei Ferreira, que também já atuou como pastor na Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo (Catedral Evangélica de São Paulo), destacou a necessidade de cautela diante de “certezas religiosas absolutas sobre o bem e o mal”. A publicação gerou intensa repercussão crítica nas redes sociais, especialmente durante o feriado pascal, o que acabou levando a instituição a encerrar seu vínculo com o teólogo.
Conhecido por uma postura política mais à esquerda e por críticas ao conservadorismo cristão, Ferreira também direcionou críticas ao deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) no final do artigo. O parlamentar é evangélico e frequentemente associa sua atuação política a uma missão divina.
No texto intitulado “Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?”, o teólogo cita uma obra do pensador francês Jean-Yves Leloup, que se baseia no chamado “Evangelho de Judas” — um texto apócrifo, não reconhecido pelas principais tradições cristãs — para sugerir que Judas teria sido, na verdade, enganado por Jesus.
Essa visão, no entanto, contraria os relatos bíblicos tradicionais sobre a traição. Ainda assim, Ferreira argumenta que “um olhar mais complexo sobre Judas” pode ajudar os cristãos a refletirem sobre sua própria capacidade de traição e erro em relação a Jesus.
“Judas tinha certezas demais sobre quem era Jesus e sobre como Deus agiria na política do primeiro século. É necessário ter cuidado com visões políticas baseadas em certezas religiosas absolutas sobre o bem e o mal”, escreveu Valdinei, antes de fazer referência crítica a Nikolas Ferreira.
No último dia 24, o teólogo divulgou uma nota oficial se defendendo das críticas. Leia o texto na íntegra:
Sobre a repercussão do artigo “Judas traiu Jesus ou Jesus traiu Judas?”, que publiquei no site do Jornal Folha de São Paulo em 17/04/2025, venho esclarecer o que segue:
1) o artigo transcreve o argumento do teólogo Jean-Yves Leloup e deixa claro que o próprio Leloup não apresenta a ideia de que qualquer traição promovida por Jesus como verdade histórica. O teólogo Leloup toma Judas como “arquétipo” (símbolo presente em todas épocas e lugares) de personalidade humana que pode se enganar com base em certezas religiosas absolutas;
2) na conclusão do artigo expresso minha opinião e propósito ao escrevê-lo, a saber: a) que cada cristão admita seu lado obscuro e reconheça que todos somos capazes de traições e equívocos em interpretações sobre Jesus; b) que se tenha cautela com visões políticas com base em certezas religiosas, que podem ser enganosas, como tristemente fica demonstrado no exemplo de Judas.
Cabe reforçar que o artigo foi elaborado a partir da perspectiva reformada de valorização das liberdades de consciência e de expressão sendo guiadas pelo amor e respeito àqueles que pensam de outro modo.
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