Medida permitirá uso de economias em dólar sem necessidade de comprovar origem; presidente chama sonegadores de “heróis” por escaparem de políticos “ladrões”
O governo da Argentina anunciou nesta quinta-feira (22) um novo plano econômico que permitirá aos cidadãos utilizarem seus dólares guardados sem precisar justificar a origem do dinheiro. A proposta, que será oficializada por decreto do presidente Javier Milei e enviada como projeto de lei ao Congresso, foi chamada de “Plano para a reparação histórica da poupança dos argentinos”.
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A medida tem como objetivo estimular o uso de dólares mantidos fora do sistema formal e liberar o consumo com recursos atualmente fora do radar da Receita. Segundo o ministro da Economia, Luis Caputo, a população poderá usar esses valores para comprar eletrodomésticos, imóveis, veículos e outros bens sem “ninguém pedindo explicações”.
Durante uma entrevista coletiva, Caputo afirmou que, se a medida surtir efeito, poderá ajudar a sustentar o crescimento econômico do país. Ele estimou que, com um crescimento entre 6% e 8% da economia, o governo poderá devolver ao setor privado entre US$ 420 bilhões (cerca de R$ 2,4 trilhões) e US$ 550 bilhões (R$ 3,1 trilhões) em cortes de impostos.
Segundo dados do próprio governo, os argentinos mantêm entre US$ 200 bilhões e US$ 400 bilhões fora do sistema bancário — valores que representam de 33% a 66% do PIB do país, estimado em US$ 600 bilhões.
O presidente Javier Milei, em entrevista ao programa de TV “Otra Mañana”, voltou a criticar o sistema tributário argentino e exaltou quem escondeu dinheiro para fugir dos impostos. “Quem tentou se proteger dos políticos ladrões são heróis”, declarou. “Se todos tivessem conseguido fazer o mesmo, talvez os políticos tivessem parado de nos roubar.”
Milei ainda sugeriu que os cidadãos que seguiram todas as regras podem ter “faltado talento ou coragem para sair do sistema”.
A prática de guardar dólares fora do sistema financeiro é comum na Argentina, devido à inflação alta e à desvalorização do peso. Com acesso limitado à moeda americana, muitos recorrem ao mercado paralelo, conhecido como “dólar blue”, para preservar seu poder de compra.
Apesar das polêmicas declarações, o governo aposta que a legalização dos dólares escondidos pode injetar capital na economia e gerar uma retomada do crescimento nos próximos meses.