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O fim anunciado de uma era

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Joachim Löw perdeu a oportunidade de deixar a seleção alemã no ápice de sua carreira, após a conquista do tetra em 2014. Mas ficará para sempre na história como o homem à frente do 7×1 .

Nada é para sempre. Joachim Löw deveria saber disso e perdeu uma grande oportunidade de pegar o seu chapéu logo depois da inesquecível conquista do tetra no Maracanã em 2014. Se o tivesse feito, entraria para a história como um vencedor tenaz e persistente que, após oito anos de longo e exaustivo trabalho, finalmente atingiu o ápice de sua carreira. Tornara-se o conquistador do mundo do futebol.

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Mas não. Preferiu, isto sim, arriscar os louros de uma trajetória encerrada com chave de ouro pela tentativa de algo mais. Mais vitórias, mais títulos, mais troféus, mais reconhecimento. Agarrava-se com unhas e dentes ao seu muito bem remunerado cargo. Desfrutava até recentemente de incondicional apoio dos burocratas da Federação Alemã de Futebol. Reinava como se fosse uma espécie de Rei Sol na corte dos funcionários que administram o futebol que, como nos ensinou o lendário técnico italiano Arrigo Sacchi, “é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes”.

O destino reservaria para Löw uma segunda oportunidade para renunciar ao cargo. Foi logo depois da desastrosa campanha na Copa do Mundo da Rússia, quando a Mannschaft foi eliminada do torneio já na fase de grupos, sucumbindo diante do México e da Coreia do Sul. Um vexame sem paralelo para os então orgulhosos campeões mundiais.

Muitos atribuem o fracasso de 2018 ao próprio Joachim Löw, por causa de sua arrogância, teimosia, alienação e ausência de autocrítica, traços de sua personalidade que no decorrer dos últimos anos foram se acentuando.

O pior ainda estava por vir. Em novembro do ano passado, em partida válida pela Liga das Nações, a Espanha triturou literalmente uma Alemanha irreconhecível numa partida que já entrou para a história do futebol alemão como a maior derrota da seleção nos últimos 90 anos. Para quem esperava a renúncia do técnico, nada feito. A opinião pública via confirmadas suas piores suspeitas de que Löw estava agarrado ao cargo custe o que custar, além de não ter percebido os sinais dos tempos do futebol moderno.

A derrota de Sevilha foi a hora da verdade para Joachim Löw e é verdade também que ele demorou a reconhecer isto mas, menos mal, antes tarde do que nunca. Reconheceu agora. Ao comunicar que deixaria o comando da Mannschaft logo depois da Eurocopa em junho deste ano, ele se antecipou a uma eventual demissão desonrosa em caso de novo vexame.

Fato é que boa parte do crédito que Löw ainda acumulava já se foi. A torcida não o perdoou pelo fracasso na Rússia e pelo vexame de Sevilha. Os dirigentes da Federação estão fartos de sua teimosia e falta de autocrítica. Os jogadores já duvidam dos seus conceitos táticos com consequente erosão de sua autoridade sobre o elenco.

Isto posto, é inegável a contribuição mais do que valiosa que Löw deu ao futebol alemão, especialmente durante os primeiros oito anos de sua gestão como técnico da seleção. Mais até do que o próprio triunfo de 2014, o seu trabalho pioneiro de renovação a partir de 2006 foi invejável. A jovem equipe que Löw mandou a campo na África do Sul em 2010 representaria o embrião do time amadurecido em 2014. Jogadores então jovens, como Mesut Özil, Thomas Müller, Sami Khedira, Manuel Neuer, Jerôme Boateng, entre outros, levaram novos ares à seleção e revolucionaram a forma tradicional do jogo alemão.

Criatividade, improvisação e talento foram incorporados à organização tática e disposição física, resultando num conjunto que encheu os olhos do torcedor. Esse foi o maior mérito de Joachim Löw. Foi sua grande obra de arte que acabou sendo coroada de êxito, primeiro no Mineirão e depois no Maracanã.

Quinze anos da era Joachim Löw vão chegar ao seu fim no verão europeu deste ano. Será bom para todos. Os dirigentes terão tempo suficiente para achar um sucessor, e Löw poderá se dedicar integralmente à tarefa de encerrar sua carreira dignamente.

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Com informações da DW

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