Relatório revela manobras como formatação de notebooks, omissão de dados e mobilização política para barrar apuração sobre uso indevido da estrutura da agência
Um relatório da Divisão de Operações de Inteligência Cibernética da Polícia Federal aponta que a cúpula da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) adotou diversas estratégias para dificultar as investigações sobre o uso ilegal do sistema First Mile em operações políticas e privadas. O documento, que estava sob sigilo, foi tornado público na quarta-feira (18) por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes.
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Segundo a PF, houve resistência da alta gestão da Abin, incluindo o atual diretor-geral Luiz Fernando Corrêa, em colaborar com as apurações. A agência teria retardado o envio de registros, ocultado nomes e entregue material “inidôneo” às autoridades. Também foram relatadas tentativas de descredibilizar a investigação e de retirar o caso da esfera da Polícia Federal, transferindo-o para uma sindicância interna, o que, segundo o relatório, abriria margem para “sabotagem por acomodação política”.
Além disso, servidores relataram que materiais entregues ao Supremo Tribunal Federal foram previamente “sanitizados”, ou seja, tratados para omitir informações sensíveis. A direção da Abin também teria promovido uma onda de formatação em massa de notebooks em momento considerado crítico pela PF, pouco depois da apreensão do computador do ex-diretor Alexandre Ramagem. A justificativa oficial, de proteção de documentos sigilosos, foi rebatida por áreas técnicas da própria agência.
O relatório cita nominalmente dirigentes como Alessandro Moretti, Paulo Maurício Fortunato Pinto e Bruno de Aguiar Faria como envolvidos na retenção de informações relevantes. Também aponta que a mobilização no Congresso e o uso de argumentos de perseguição institucional teriam sido utilizados para enfraquecer a atuação da PF.
A Polícia Federal conclui que houve responsabilidade direta da cúpula da Abin na tentativa de obstrução das investigações, incluindo ações deliberadas para eliminar provas e intimidar setores da própria agência que colaboravam com as apurações.
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